O Povo Enawene Nawe vive às margens do rio Iquê, numa única aldeia, que atualmente abriga uma população de quase 600 pessoas, todas falantes do Aruak. Mantém o padrão de ocupação tradicional dado pelos modelos de sua organização social, efetivados nas dinâmicas de produção, manejo e utilização dos recursos, de distribuição espacial e da transmissão dos conhecimentos através das gerações, realizando com intenso vigor suas práticas sociais e seu calendário ritual.
A Terra Indígena Enawene Nawe corresponde a uma área de 742.088 ha, demarcada e homologada (em 1996), situada na transição entre o Cerrado e a Floresta Amazônica, a noroeste do estado de Mato Grosso, no Vale do Juruena (o rio Juruena, considerado de grande porte, é afluente do Tapajós que alimenta, por sua vez, o rio Amazonas). Próximos aos municípios de Brasnorte, Juína, Comodoro e Sapezal, são vizinhos dos Povos Myky, Nambikwara, Rikbaktsa, Irantxe e Cinta Larga, numa região considerada de inestimável importância histórica, etnológica e arqueológica, caracterizada pela biodiversidade e pela sociodiversidade que a sustenta.
Por outro lado, a terra dos Enawene Nawe se encontra cercada por empreendimentos de grande impacto social e ambiental. O modelo agrícola consolidado pelo investimento na monocultura através da expansão mecanizada de áreas de cultivo, bem como, a atividade de agropecuária extensiva implicam em mudanças importantes no meio natural e social. Ao sul do território, o cerrado foi, a partir dos anos 80, tomado por fazendas de cana, algodão e principalmente soja. Grande parte da fauna e da flora nativa desapareceu. Nas áreas vizinhas aos limites Oeste, Sudeste e Norte do território Enawene Nawe há uma intensa atividade de exploração predatória de madeira. Uma mancha de minério situada ao Norte e Nordeste atrai freqüentemente grupos de garimpeiros para dentro da T.I. A maior parte das cabeceiras formadoras dos rios que percorrem a terra dos Enawene Nawe se situa fora do território demarcado e muitas delas estão sendo poluídas por agrotóxicos e dejetos das cidades. Com isso, a luta pela garantia da vida desse povo não se encerra na homologação da T.I.
A recusa do povo Enawene Nawe em integrar-se a essa forma de desenvolvimento econômico, ou mesmo de participar de forma conivente, tem sido o principal fator de resistência e de luta pelo seu modo de vida tradicional.
Fonte: Opan
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