quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Casa de reza do povo Guarani-Kaiowá é inaugurada em Guaiviry, no Mato Grosso do Sul





Foto: Mariany Martinez

Cerca de 150 pessoas participaram da inauguração festiva da casa de reza no acampamento indígena Guaiviry, no município de Aral Moreira, sul de Mato Grosso do Sul. O evento aconteceu entre os dias 15 e 18 desse mês.
   
Organizado pela comunidade do acampamento Guaiviry, com o apoio da Funai de Ponta Porã, a inauguração reuniu lideranças religiosas e representantes de 32 áreas do povo Guarani-Kaiowá. Eles participaram de discussões sobre a causa indígena para o fortalecimento político e cultural, rituais de reza e danças tradicionais como o Guaixiré.

Para os indígenas, a casa de reza é mais do que o local de realização de rituais religiosos, é também o fortalecimento da resistência do povo Guarani-Kaiowá na região. A casa recebeu o nome de Ongusu Apyka Renda, que não tem tradução coerente para o português, mas, segundo o antropólogo Thiago Cavalcante, tem significado relacionado a rituais que utilizam um banco de madeira específico: Ongusu era o nome dado às moradias de famílias extensas, significava casa grande. Depois ganhou nova leitura, o de casa de reza. “Apyka é um banquinho feito de cedro utilizado em rituais religiosos”, explica.

Durante o evento, lideranças religiosas e políticas elaboraram um documento com demandas da causa indígena, dentre elas, o pedido de construção de casas de reza em todas as áreas indígenas da região. Melhorias nas áreas da saúde e educação também foram solicitadas. A Funai, por meio da Coordenação Regional de Ponta Porã, encaminhou o documento ao Ministério Público.

No dia 18, a programação do evento se voltou à memória do cacique Nisio Gomes, assassinado há um ano, durante ataque em represália à retomada do tekoha Guaiviry. O corpo do cacique nunca foi encontrado, mas 23 pessoas respondem a processos por homicídio e ocultação de cadáver, dentre outros crimes.

Foto: Mariany Martinez
 
Um ano após a morte de Nisio, a comunidade Guarani-Kaiowá homenageou o cacique com rezas, depoimentos sobre sua vida e luta, além de músicas que lembraram a tristeza das perdas em batalhas pelos tekohas (terras tradicionais). Indígenas que presenciaram o ataque a Guaiviry relembraram os momentos de sofrimento e postaram flores, fotografias e velas no local onde o cacique caiu baleado: “Em apoio a essa extrema situação de tristeza, os Nhande Ru (rezadores) se reuniram para restituir o espírito de alegria para as famílias”, disseram as lideranças indígenas.

Texto: Amanda Cury
CR de Ponta Porã - MS

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