quarta-feira, 27 de julho de 2011

Guarani Mbyá iniciam discussão sobre inventário de sua língua

Fonte: Ipol – Instituto de Investigação e Desenvolvimento em Potítica Lingüística

O I Encontro sobre o Inventário da Língua Guarani Mbya (ILG) começou ontem, 26, reunindo várias lideranças Guarani, poder público e especialistas. A discussão do resultado do estudo, para o Ipol – Instituto de Investigação e Desenvolvimento em Política Lingüística que promove o encontro e realizou o inventário – só faz sentido se compartilhada com a própria comunidade indígena. Como mesmo afirmou Gilvan Müller de Oliveira, diretor executivo do Instituto Internacional da Língua Portuguesa (IILP), “a língua é dos Guarani e continuará a ser dos Guarani que, através do seu uso, das suas lideranças, das suas assembleias, fixarão o futuro dela no contexto do plurilinguismo brasileiro”.




Foram inventariadas 69 aldeias através de seis Estados brasileiros (ES, SP, RJ, PR, SC, RS), somando um total de 928 questionários respondidos. Ainda, foi coletado material de pesquisa em arquivo e base de dados, aplicação de questionários, marcação de pontos das aldeias por GPS, relatórios das idas a campo, registro audiovisual, registro de depoimentos e coleta de objetos. O resultado de toda essa pesquisa, realizada com apoio do Conselho Federal Gestor do Fundo de Defesa de Direitos Difusos (CFDD) da Secretaria de Direito Econômico do Ministério da Justiça e da Fundação Nacional do Índio (Funai), foi compilado no Inventário da Língua Guarani Mbya.

O livro editado pelo Ipol com o apoio do recém instaurado Inventário Nacional da Diversidade Lingüística (INDL) reúne boa parte das informações em 11 capítulos ordenados em conjunto com mapas expositivos, infográficos e informações estatísticas. Tudo no sentido de melhor registrar a língua Mbyá, elevando-a, através do reconhecimento do Instituto do Patrimônio Histórico Nacional (Iphan), a patrimônio imaterial brasileiro. Segundo Fabíola Nogueira Cardoso, técnica em antropologia do departamento do patrimônio imaterial do Iphan de Brasília, o ILG poderá clarificar a atual situação da língua na conjuntura nacional, e, além disso, garantir mais direitos e reconhecimento linguístico aos falantes.

Num Brasil que convive com mais de 210 línguas faladas em todo território nacional, o reconhecimento institucional consiste numa importante estratégia para salvaguardar a diversidade do país, violentamente amputada desde o processo colonial. Rainer Enrique Hamel – professor convidado da Universidade Autônoma Metropolitana do México – reconhece a importância de se inventariar as línguas, apesar de boa parte ter concebido seus códigos de escrita só depois. Constituíam-se, no princípio, como representações essencialmente orais. O livro, para esse pesquisador mexicano, é ainda o suporte hegemônico de difusão. Portanto, o registro editorial ajuda sobremaneira na conservação dos idiomas e na preservação de diversidade lingüística.

Deste modo, o encontro com as lideranças contribui para dialogar com a própria comunidade sobre os métodos de análise e as diretrizes a serem seguidas a partir de agora. Para o Ipol, é fundamental que o inventário não seja visto como um trabalho técnico, realizado a revelia da comunidade. Rosângela Morello, diretora do instituto, enfatiza que as principais pessoas desse trabalho são os próprios indígenas, portadores de uma língua que remonta a história e a ancestralidade de um país obrigado a ser ver diante do português como representação hegemônica. Infelizmente, a maioria dos brasileiros desconhece a riquíssima diversidade linguística do país.

O olhar Mbya pela ótica da tradução
Myrian Lucia Cardoso e Wanderley Cardoso Moreira foram os dois responsáveis pelas traduções do português para o Guarani Mbyá. As partes do inventário que foram transcritas e as traduções dos curtas-metragens foram todas realizadas pelos dois. Para eles, a interpretação da cosmologia guarani para o português é um exercício extremamente árduo, sobretudo diante da complexidade dos dois idiomas. Wanderley explica que deve haver uma interpretação do sentimento antes da tradução, caso contrário, o conteúdo fica seriamente comprometido. “Se você está falando em português e vai traduzir para o Guarani, não é a mesma coisa”, explica o tradutor.

Myrian acredita na existência de dois modelos de tradução: um ao pé da letra, embora neste se perca completamente o contexto da transcrição, e o outro, mais adequado, em que se deve conhecer profundamente a cultura no sentido de manter a maior fidelidade dos aspectos subjetivos.

Quando questionados sobre a importância do bilinguismo para as comunidades Mbyá, ambos os tradutores assumem a importância de se escolarizar as crianças nas duas línguas. Assim, para eles, as aldeias poderão reivindicar melhor seus direitos, transitando tanto pelo português quanto pelo guarani, de acordo com a necessidade e com a vontade de cada comunidade falante.

O Guarani constitui-se enquanto a maior comunidade de falantes indígenas do Brasil. Dentro das qualificações do INDL, encaixam-se justo na categoria de língua indígena falada por comunidades numerosas. Este esforço de inventariar a língua se estende por três anos e compreende-se junto ao trabalho de elevar a diversidade linguística brasileira ao patamar que merece. As discussões têm lugar em Florianópolis, cidade sede do Ipol, e tem duração de dois dias inteiros, com oito horas de trabalhos diários entre as entre as lideranças, o poder público e os especialistas.

Um comentário:

  1. Espero que esse inventario venha se tornar público! Muito boa iniciativa, est~ao de parabens os responsaveis

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